Por Visual News Noticias
BRASÍLIA — O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley , disse ao GLOBO que o primeiro-ministro de seu país, Benjamin Netanyahu , estará na posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro , no próximo dia 1º. Shelley afirmou não serem verdadeiras notícias de que Netanyahu ficaria no Brasil apenas para se reunir com Bolsonaro na sexta-feira no Rio de Janeiro.
— O primeiro-ministro estará na posse de Jair Bolsonaro — informou o embaixador.
A decisão, no entanto, indica que Netanyahu mudou de ideia. Mais cedo, o GLOBO apurara com fontes ligadas à diplomacia israelense que de fato houvera desistência do premier de comparecer à posse.
Segundo o embaixador israelense, além de Bolsonaro, Netanyahu terá conversas com os ministros do próximo governo, entre os quais os da Defesa (Fernando Azevedo e Silva) e das Relações Exteriores (Ernesto Araújo). Ele explicou que a ideia é montar uma "agenda completa para o futuro".
— Os dois países sempre tiveram boas relações, embora tenham ficado menos próximos nos últimos anos. Com o novo governo de Bolsonaro, sua declaração sobre a amizade e a importância de trazer tecnologias para o Brasil, surge uma nova época nas relações entre os dois países, que têm os mesmos valores democráticos e culturais — disse o embaixador.
Shelley destacou que Israel pode contribuir em várias áreas em que o Brasil enfrenta problemas, como a seca no Nordeste e a segurança pública. Contra a seca, o país tem a oferecer tecnologia de dessalinização da água, que, no entanto, j á é feita em programas públicos no Brasil desde 2004 sem participação israelense.
A ideia de fortalecer as relações entre Brasil e Israel foi sacramentada quando Bolsonaro declarou, assim que foi eleito, que iria transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. Ao dizer isso, o presidente eleito causou preocupação entre os países árabes, que argumentam que Jerusalém não é reconhecida pela ONU como a capital israelense. Perguntado sobre a questão, Shelley afirmou:
— Não posso responder por eles [os países árabes].
Atual ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes assegurou que o governo do presidente Michel Temer sempre manteve ótimas relações com Israel. Ele destacou áreas como meio ambiente, investimentos em infraestrutura, tecnologia, defesa e segurança pública. Lembrou, ainda, que Israel tem um acordo de livre comércio com o Mercosul e vários outros tratados de parceria.
— Israel já tem uma presença muito grande em defesa e segurança, mas pode melhorar — disse Nunes.
Segundo uma fonte da equipe de transição do próximo governo, existe a expectativa de o Brasil, com esse fortalecimento nas relações com Israel, aumentar suas exportações para aquele mercado. A balança comercial com o país foi desfavorável ao Brasil em US$ 767 milhões no ano passado.
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que, em 2017, as exportações brasileiras para Israel somaram US$ 293 milhões, valor 27,07% inferior ao que foi contabilizado no ano anterior. Já as importações de produtos israelenses atingiram US$ 1,060 bilhão, uma alta de 29,74%.
Os principais produtos vendidos pelo Brasil ao mercado israelense são
carne bovina congelada, soja e suco de laranja. Já as importações
daquele país se têm como principais itens cloreto de potássio,
inseticidas e materiais plásticos.
A desistência inicial de Netanyahu de comparecer à posse partira da avaliação de que o líder israelense não poderia ficar uma semana distante do seu país, em meio à abertura do processo eleitoral antecipado no país.
A decisão fora tomada na terça-feira, um dia depois de a coalizão de governo se reunir e resolver, de forma unânime, dissolver o Parlamento e convocar o pleito para abril. As eleições legislativas israelenses estavam previstas para novembro de 2019. Neste contexto, as eleições primárias do Likud, o partido de Netanyahu, ocorrem na primeira semana de fevereiro.
Levantamento de intenções de voto divulgado na terça-feira, o primeiro desde a dissolução da coalizão, estima vitória fácil de Netanyahu nas eleições de abril. Com o pleito, o premier tenta um novo mandato, que lhe permita governar de modo mais sólido, em meio às investigações. Publicada pelo jornal israelense Maariv, a pesquisa prevê que o Likud consiga 30 cadeiras no pleito — mesmo número obtido nas urnas em 2015 — e some maioria de assentos no bloco de direita do qual é líder.
O líder israelense havia inicialmente confirmado presença na posse de Bolsonaro em 29 de novembro. Foi a primeira — e uma das mais altas — autoridade internacional a aceitar o convite do governo eleito.
Até por ocorrer em 1º de janeiro, a posse de presidentes brasileiros não costuma contar com a presença de líderes internacionais. O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, representará Washington no evento. Os dois países integram a linha de frente da política externa do governo Bolsonaro, visto com hesitação por parte da comunidade internacional após anunciar mudanças em posturas tradicionais da diplomacia brasileira. A equipe de transição confirmou a intenção de transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, a retirada do país do pacto global de migração da ONU e enunciou críticas ao Acordo de Paris sobre o clima.
Pelo Twitter, nesta terça-feira, Bolsonaro anunciou que o futuro ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, visitará Israel em janeiro para negociar parceiras na área.
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